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A necessidade da escrita enquanto processo reflexivo na redação do ENEM

Publicado em: 21/06/2021

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A necessidade da escrita enquanto processo reflexivo na redação do ENEM

 

 

Mariana Bisaio Quillici
Doutora em Teoria Literária – UFU
Coordenadora do 3° ano do Ensino Médio - Unidade Rondon

 

 

            Sabe-se que o dia a dia dos alunos do Ensino Médio é recheado de incertezas e inseguranças. Algumas delas podem aumentar durante os três anos dessa etapa, mas o ideal seria que se tornassem desafios prontos para serem superados ao final do processo e deixassem de ter o tom de empecilho. 

 

Não se pode condenar um estudante que não se sente preparado, o que precisamos é acolhê-lo e fazer com que perceba duas coisas: a primeira delas é o fato de que uma prova não pode ser maior que sua própria vida, tirar o sobrepeso que é atribuído aos processos seletivos colabora com a estimulação da autoconfiança. A segunda é conscientizar o aluno de que sua dedicação não será em vão, no momento tão esperado das provas dos processos seletivos todo o esforço se mostra efetivo. 

 

Mas pensemos especificamente em uma das principais preocupações desses estudantes: a redação do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Por qual motivo a escrita de um texto torna-se tão assustadora? Dentre tantas disciplinas cobradas pelo ENEM, por que a redação tem destaque?

 

O processo de escrita requer um exercício necessário para o desenvolvimento humano, a reflexão sobre o Eu e o Outro. É necessário que o aluno, enquanto o ser que em futuro próximo irá atuar diretamente na construção e reconstrução da sociedade, teça reflexões críticas sobre problemas sociais que toquem não somente a sua realidade, mas a de todos que o cercam.

 

É comum que muitos temas de redação provoquem incômodos em várias pessoas e isso não deixa de ser bom, afinal, o que incomoda também precisa ser discutido. Precisamos que nossos alunos reconheçam problemas sociais, agucem sua capacidade de ver além da sua própria realidade e pensem no macro, rompendo as paredes de sua sala de aula, ultrapassando o bairro onde moram.

 

Tendo feito esse movimento de reconhecimento, o próximo passo é que tenha condições de argumentar sobre o problema identificado e propor soluções cabíveis. Aqui, além de ter analisado a sociedade cumprindo seu papel de pensador crítico-reflexivo, o aluno coloca-se no lugar de agente modificador, aquele que não apenas reconhece problemas, mas colabora para que existam recursos capazes de dissolver tais problemas.

 

Entendemos que vem daí a insegurança da escrita, da necessidade de sair do lugar confortável em que se encontra e refletir de maneira intensa sobre a sociedade como um todo. Muitas vezes esse movimento acaba esbarrando em comportamentos do adolescente que o próprio vai entender como inadequado e a proposta para resolução do problema atingirá suas próprias atitudes. Escrever não é um ato tranquilo. Escrever é um desafio, é se expor, é existir e resistir.

 

Um bom texto conta com boas leituras, com confronto de opiniões, com a desconstrução de preconceitos que muitas vezes não sabemos que temos, não reconhecemos, mas que existem. Para o adolescente a escrita da redação implica em amadurecimento e amadurecer dói, mas é necessário.

 

Cabe ao aluno buscar enriquecer seu vocabulário e suas leituras, sempre e cada vez mais. Jornais, revistas, noticiários, livros literários, tudo isso colabora para “ouvir” a realidade de outro e confrontá-la com a nossa, seja ela qual for. Assim, a redação deixará de ser temida e passará a colaborar cada vez mais para a construção do aluno, o cidadão agente do futuro.