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ENSINO HíBRIDO: presente e futuro da educação

Publicado em: 02/02/2021

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ENSINO HíBRIDO: presente e futuro da educação

Por Mayara Abdalla

Gestora Pedagógica do Sistema Gabarito

Pedagoga, graduada pela USP

Pós-graduada em Administração pela FGV

 

     

        O distanciamento social ocasionado pelo covid-19 provocou uma avalanche de adaptações ao ensino. De um dia para o outro as escolas precisaram se reinventar para conseguir oferecer atividades, aulas, avaliações e também, apoio, contato e afeto aos alunos. Todo o setor foi forçado a se atualizar, estima-se que a reorganização das atividades para um formato online acelerou o desenvolvimento tecnológico do setor em 10 anos. Assim, tecnologias que utilizaríamos em um futuro relativamente distante, foram aprendidas no prazo de 10 dias. 

 

      Desde então termos como ensino remoto, aulas síncronas e EAD fazem parte do vocabulário de alunos, professores e pais. Ultimamente o termo que vem ascendendo nas conversas é o ensino híbrido, referindo-se ao formato de ensino intermediário, entre o afastamento total e o retorno total das atividades presenciais. Mas afinal, o que é de fato o ensino híbrido?

 

O ensino híbrido, vai muito além do ensino remoto emergencial que foi praticado nos últimos meses. Pois ele engloba uma gama de modelos de ensino, alterando o papel desempenhado pelo professor e pelo aluno em relação ao ensino tradicional.

 

A definição strictu sensu de ensino híbrido é: 

“O ensino híbrido é um programa de educação formal no qual um aluno aprende, pelo menos em parte, por meio do ensino online, com algum elemento de controle do estudante sobre o tempo, lugar, modo e/ou ritmo do estudo, e pelo menos em parte em uma localidade física supervisionada, fora de sua residência (…) As modalidades ao longo do caminho de aprendizado de cada estudante em um curso ou matéria são conectadas para oferecer uma experiência de educação integrada”. (CHRISTENSEN, 2018)

 

Desta forma ele ultrapassa as barreiras da sala de aula e não se caracteriza apenas com a transposição das aulas e do formato presencial para o formato remoto. Engana-se quem acredita que o ensino híbrido é novidade, na realidade o ensino híbrido e seus modelos fazem parte do rol de metodologias ativas amplamente discutidas há anos.

 

Dentre os modelos de ensino que fazem parte do ensino híbrido, existem os modelos sustentados e os disruptivos, os modelos sustentados são aqueles que utilizam como base o formato tradicional já os modelos disruptivos fogem totalmente dessa premissa. 

 

Os formatos que fazem parte dos modelos sustentados são:

 

  • Sala de aula invertida: consiste no estudo prévio do aluno sobre um tema especificado pelo professor. Assim, o aluno realiza o estudo através de vídeos ou textos antes do momento da aula. Tornando a aula um espaço para realização de atividades, tirar dúvidas e até possíveis questionamentos sobre o conteúdo por parte do professor. Aproveitando o momento em conjunto para atividades que sejam mais dinâmicas e sociais. 

 

  • Laboratório rotacional: neste modelo, dividimos os alunos em dois grupos. Onde um irá trabalhar algumas atividades planejadas pelo professor de forma mais prática, as atividades podem ser digitais ou físicas. O outro grupo ficará com o professor em sala trabalhando questões mais teóricas. Após esse momento ocorre a troca dos grupos. 

 

  • Rotação por estações: o formato assemelha-se ao laboratório, porem desta vez os alunos são divididos em mais grupos e passeiam por todas as estações de aprendizagem, em cada estação há uma aprendizagem diferente, porém complementares. O professor neste caso atua principalmente como mediador dos grupos e do que será realizado nas estações.

 

Já dentre os modelos disruptivos podemos citar:

 

  • Rotação individual: este modelo difere da rotação por estações pois os percursos de aprendizado são realizados de forma individual, levando em consideração as aptidões e dificuldades de cada aluno. Neste formato a personalização acontece de fato. Para possibilitar a rotação individual, o professor precisará desenvolver atividades específicas para perfis e habilidades específicas, não necessariamente um roteiro para cada aluno.

 

  • Flex: mescla atividades individuais e atividades coletivas durante as aulas ou em formato de projetos. Têm sido um dos modelos mais palpáveis para o momento de afastamento, através da utilização das plataformas e reuniões online.

 

  • A lá carte: o estudante é o responsável pelas escolhas das disciplinas que irá cursar, dentro dos objetivos de ensino pré-estabelecidos. Pode aumentar o engajamento dos estudantes nas atividades, visto que eles participaram do processo de escolha. Este modelo é muito difundido em ensino médio em outros países e começa a ganhar espaço no Brasil através da BNCC para o ensino médio.

 

  • Virtual aprimorado: neste modelo, o aluno possui toda a oferta de conteúdo e atividades online e frequenta presencialmente a escola, para a realização de atividades mais dinâmicas e em grupo, como debates, acompanhamento de projetos, ou até sanar dúvidas. Priorizando as atividades com maior participação dos alunos na escola fisicamente.

 

Todos os formatos apresentados existiam antes da pandemia, muitos foram aprimorados ao novo contexto e alguns foram ressignificados. O que todos os formatos visam é um engajamento maior do estudante no processo, incentivando sua autonomia e proatividade, sem deixar de lado sua individualidade. Aliando suas potencialidades às atividades que sejam voltadas ao seu conhecimento individual. 

 

Estes conceitos são fundamentais no ensino remoto, pois sem o engajamento dos alunos, as aulas online tornam-se exposições superficiais de conteúdo que não os alcançam, que não dialogam com eles. Por isso o ensino híbrido se caracteriza como possibilidade sólida ao ensino remoto emergencial que ainda não tem prazo para acabar. 

 

Apesar de não ter ocorrido de maneira orgânica e bem preparada, as escolas e professores tiveram que aprender a utilização das novas tecnologias para propor atividades que, além de cumprir dias letivos e conteúdos fossem significativas e proveitosas aos alunos. No início da pandemia, talvez estivéssemos aprendendo o que traria mais resultado para cada faixa etária e perfil de estudante, porém passados 10 meses de ensino remoto é fundamental que aprimoremos nossas propostas acadêmicas para a nova realidade. 

 

É necessário que deixemos de ansiar pela realidade que já vivemos um dia no passado, mas que, após toda essa experiência que nos foi imposta, possamos aprender novos olhares e novos significados. Aprimorando e discutindo medidas que possam trazer maior significado à educação de jovens e crianças. Uma educação que estimule o protagonismo e a participação dos alunos neste processo que afinal é totalmente voltado para eles.

 

 

 

 

 

Referências Bibliográficas

BACICH, L; MORAN, J. (Orgs). Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018

BACICH, L. Ensino híbrido: muito mais do que unir aulas presenciais e remotas, 2020. Disponível em: https://lilianbacich.com/2020/06/06/ensino-hibrido-muito-mais-do-que-unir-aulas-presenciais-e-remotas/. Acessado em: 29/12/2020.

CECÍLIO, C. Ensino híbrido: quais são os modelos possíveis?, 2020. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/19715/ensino-hibrido-quais-sao-os-modelos-possiveis. Acessado em: 29/12/2020.

CHRISTENSEN, Clayton et al. Ensino Híbrido: uma inovação disruptiva? Clayton Christensen Institute, 2013. Disponível em: https://portalrevistas.ucb.br/index.php/raead/article/view/7517/4651. Acessado em: 29/12/2020.